Há peixe, marisco e memórias de infância no novo ÀCosta, do chef Olivier
ÀCosta é o novo restaurante de Olivier da Costa na Doca da Marinha, em Lisboa. Neste que é o conceito mais português dos que criou até hoje, o peixe e o marisco são as estrelas e chegam à mesa com a inquietude das ideias do chef, acompanhados de cocktails e boa vista sobre o Tejo.
Sentado num rochedo enquanto empunha o seu tridente, Poseidon, o deus do mar na mitologia grega, vigia atentamente o bar em mármore, no centro do deck exterior em madeira, pintado de laranja ao pôr do sol. Do espaço anteriormente ocupado pelo Anfíbio ficou somente a estrutura projetada pelo arquiteto Carrilho da Graça, responsável pela renovação da histórica Doca da Marinha. Ao assumir a exploração deste restaurante – a 52.ª abertura em 30 anos de carreira -, Olivier da Costa mudou tudo, criando o que diz ser o seu conceito “mais português” de todos.
O ÀCosta homenageia os “700 anos de cultura gastronómica” lusa e as suas tradições através da narrativa pessoal do chef, que evoca a “comida da avó”, em particular dos seus avós e tios. Os clientes são recebidos com uma banca de peixe e marisco sobre gelo, que dali saem para a grelha. O menu revela que também há espaço para algumas carnes, como a presa de porco à alentejana, pica-pau do lombo, bife do lombo à Costa e um bife tártaro, entre outros, mas 70% dele é peixe e marisco, cuja frescura e qualidade, por via da origem nacional, não se discutem.
Para início de conversa, peça-se um cesto de pão de massa-mãe com manteiga dos Açores com sal e pasta de atum, e o pão torrado com manteiga, fornecido pela padaria Soares & Co. De entradas há muita escolha, desde carpaccio de polvo, a ceviche de vieiras, camarão à guilho, ostras com molho mignotte e limão e ovo à Costa (batata-palha, tártaro de camarão, maionese, ovo estrelado e caviar). Muito pedidos são também as navalhas grelhadas, com manteiga de alho e ervas e as lulas, sob consulta, também grelhadas, mas com beurre blanc.
É nos capítulos do peixe e marisco que Olivier desfia as memórias de infância, começando pelo peixe grelhado com molho de manteiga e emulsão de limão e ervas, inspirado no tempero que a tia Matilde colocava no peixe apanhado pelo tio Jorge na pesca submarina. O ex-líbris é já o arroz negro com choco, camarão e tamboril. Entre os mariscos, é o carabineiro à Sr. Augusto que presta tributo à forma como o avô cozinhava os camarões. A parelha líquida faz-se com vinhos e cocktails com licores e especiarias lusos, feitos pela head bartender Larissa Salgado.
Na última maré da refeição, Olivier da Costa mantém-se fiel ao receituário tradicional, propondo um “doce da casa” à base de sundae de iogurte grego, bolacha Maria e doce de ovos; a par da mousse de chocolate com nougat e conguitos, a lembrar o que a avó lhe comprava, ao sair da escola. O ÀCosta promete atualizar o menu de acordo com a sazonalidade dos produtos, o que significará que no tempo frio irá receber pratos mais aconchegantes. Para dar maior conforto à experiência, o restaurante oferece 45 lugares de estacionamento, mesmo na Doca da Marinha.